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Ecologia e Literatura - Educação Ambiental - Artigo

Não deixe de ler este texto interessantíssimo que extraí de:

LITERATURA E ECOLOGIA
A literatura é uma ponte para a ecologia e o entendimento sobre o que significa sersustentável. Saiba mais sobre como envolver crianças e adolescentes na vivência ambientalpor intermédio da literatura a partir da entrevista com Beth Serra, Secretária Geral da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil, e Maria Betânia Ferreira, Coordenadora Pedagógica do Concurso de Redação Ler é Preciso.


1) Fala-se em educação ambiental, ecopedagogia e educação sustentável. Estamos usando expressões diferentes para o mesmo significado? O que elas têm em comum?

Beth Serra: O ponto de encontro de todas essas expressões é, sempre, a educação. Aqui há um papel fundamental a ser desempenhado pelos educadores: reinventar processos e formas para transferir conhecimento e despertar comportamentos positivos nas crianças e nos adolescentes. A questão da preocupação ambiental vem de muito tempo: o Imperador D. Pedro II, por exemplo, ordenou a restauração da mata da Tijuca, no Rio de Janeiro, porque isso era vital para a manutenção dos mananciais e para o fornecimento de água para a cidade. A educação ainda é algo a que apenas privilegiados têm acesso, pela formação de seus pais, pela vivência de seus professores. Temos de investir em livros informativos e em bibliotecas para dar oportunidade à grande maioria que não tem acesso a esse tipo de educação.
Maria Betânia: Não se trata de um mesmo significado, embora elas tenham muita coisa em comum. Exagerando um pouco na comparação:
Para ver com mais clareza, vale a pena mergulhar em cada uma dessas três expressões, relembrar de onde elas surgiram e, assim, ver por si mesmo o que as liga e o que as individualiza. E eu acrescentaria ainda uma quarta palavra à série: ecoformação.

Vamos começar pela educação ambiental, que as sociedades humanas primitivas já praticavam (sem dar esse nome) quando preparavam e orientavam as pessoas para viver em relação harmoniosa e estreita com o meio ambiente. Vitor Hugo, para puxar a brasa para a sardinha da literatura, definiu o futuro como "um edifício misterioso que levantamos na Terra com as próprias mãos e que mais tarde deverá servir-nos a todos de moradia".
Mas o termo educação ambiental só começou a ser amplamente usado nos anos 70, quando a humanidade começou a se preocupar com os estragos que havia feito ao planeta ao longo de sua história (principalmente a partir da metade do século XX, quando a deterioração se acelerou) e percebeu que ia precisar fazer alguma coisa para mudar a mentalidade das novas gerações para não acabar dando fim a si mesma.
Em 1972, na Suécia, surgiu um primeiro documento falando da necessidade de informar a opinião pública sobre os problemas ambientais, para que as pessoas e empresas mudassem sua conduta no sentido de proteger e melhorar o meio-ambiente. Talvez naquela época a gente (nós, humanidade) ainda não se desse conta de que era o nosso modelo, o nosso estilo de correr atrás do lucro e do que chamávamos “desenvolvimento”, que precisava mudar para interromper a maratona destrutiva.
Três anos depois, num encontro que aconteceu na antiga Iugoslávia, a educação pulou para o centro da discussão, quando os estudiosos começaram a se dar conta de que sem ela não seria possível mudar a maneira de as pessoas agirem. Começou-se a falar do meio ambiente como um TODO (a natureza & o que o homem produz) e da necessidade de dar um jeito não só nas relações do homem com a natureza, mas também dos homens uns com os outros.
Foi nessa ocasião também que começamos a perceber que nossa idéia de desenvolvimento precisava de ajustes e correções. A educação ambiental seria, então, a ferramenta para que as pessoas (todas, e não só os estudantes – e aí entra o papel dos meios de comunicação) tomassem consciência do meio-ambiente e se interessassem por protegê-lo e resolver os problemas existentes, que já eram grandes e numerosos.
Em 1977, depois de mais um encontro de estudiosos na Rússia, a educação ambientalpassou a fazer parte dos sistemas de educação; a essa altura dos acontecimentos, percebemos que não bastava sensibilizar: era preciso mudar atitudes, ampliar o conhecimento que as pessoas tinham sobre o que estava acontecendo no planeta, fazer com que as pessoas se reunissem e agissem comunitariamente na busca de soluções ambientais. Era, então, uma educação para agir em favor do meio ambiente.
Dez anos depois, estávamos nos aproximando da última década do século XX e um novo encontro em Moscou deu origem a um documento em que se falava da pobreza e do aumento da população como causas dos problemas ambientais...
Foi preciso chegar a 1992, e ao Rio de Janeiro, para que surgisse uma visão crítica de verdade em relação aos problemas ambientais. Foi aí que nasceu a Agenda 21 (as tarefas que a humanidade precisava realizar até o século XXI). Um capítulo dessa Agenda foi dedicado à educação. Três coisas precisavam acontecer: reorientar a educação no sentido do desenvolvimento sustentável, aumentar a consciência das pessoas e torná-las mais capazes para lidar com o ambiente (natural e humano). Nasceu também um Tratado de Educação Ambiental Para Sociedades Sustentáveis e Responsabilidade Global.  Nesse documento a crise ambiental é vista como um todo, e, pela primeira vez, a destruição de valores humanos, a alienação e a falta de participação como cidadão aparecem como ingredientes dacrise ambiental. E o documento diz com todas as letras que educação ambiental é um ato político para transformar a sociedade, envolve aprendizagem permanente baseada no respeito a todas as formas de vida, deve basear-se em pensamento crítico e precisa ser vista numa perspectiva holística, isto é, o "todo" não é uma soma de partes, e sim um conjunto de sistemas que interagem e se influenciam o tempo todo.
A partir daí, a idéia de educação ambiental passou a abarcar coisas como qualidade de vida, cuidado e autodesenvolvimento. Uma educação ambiental pura e simples, antes, seria aquela que fornece os conhecimentos para entender os problemas ambientais, dá oportunidades para desenvolver habilidades e capacidades para lidar com os problemas ambientais e  ensinar outras pessoas a fazerem o mesmo.
E aí chegamos à idéia de educação sustentável, que muita gente acha que é um nome melhor para educação ambiental. Há quem ache que educação ambiental é a parte da educação que fala de meio-ambiente e natureza, e não tem nada a ver com outras matérias... O que não é verdade. Com o passar do tempo, a educação ambiental evoluiu, foi agregando outras áreas, outros valores, outros princípios, e hoje se fala em educação para a sustentabilidade. Oueducação sustentável. O que é isso?
É educação que vai além de ensinar como funcionam os ambientes naturais e como os humanos podem lidar com eles causando o mínimo possível de estrago: ela também leva as pessoas a se perguntarem se o que elas fazem no dia-a-dia faz sentido, se contribui ou não para acabar com recursos que vão fazer falta no futuro, se fazer as coisas desse jeito melhora ou não a qualidade de vida e a felicidade no planeta Terra.
A “sala de aula” da educação sustentável não tem paredes: é o planeta Terra, e, quando formos além dele, será também lá. Num trabalho de educação sustentável (na família, na escola, em toda parte), tudo o que acontece vai no sentido de formar gente que vê a Terra não como uma coisa a ser dominada, consumida, mas como um grande ser vivo; gente sensível aos outros seres, humanos ou não; gente cuidadosa, gentil, terna, pronta para se encantar, capaz de consumir menos; gente com ética, capaz de agir como um ser inteiro, e não apenas de cumprir papéis que dependem de onde ela está e do que os outros estão fazendo ou deixando de fazer.    
Uma teoria da educação deve servir de base e de eixo para a prática de uma educação sustentável, e a teoria ideal para isso é a Ecopedagogia. É uma teoria da educação, ou seja, um conjunto de princípios fundamentais que dão um determinado sentido ao processo de educar. No caso daEcopedagogia, a idéia é desenvolver um novo jeito de olhar o mundo e de estar nele, a partir da vida cotidiana. “Pensar a prática”, como dizia Paulo Freire, que é o grande inspirador daEcopedagogia. Não “passar batido” pelas coisas, e sim interagir com o que acontece, por inteiro. A educação sustentável pode acontecer, pode se realizar, e, para isso, aEcopedagogia tem propostas e idéias sobre os meios. Uma delas, por exemplo, é a ecoformação.
Quando uma pessoa experimenta as coisas no dia-a-dia, ela tanto pode passar por essas experiências sem prestar atenção, de um jeito mecânico, como pode passar consciente do que se acontece e do que isso provoca e desperta em seus sentimentos, em sua vida. Nesse momento, essas experiências se tornam formadoras e servem para ampliar o ponto de vista. E eu não estou falando de "grandes" experiências, e sim de coisas simples como sentir a brisa, ler um livro, estar diante de uma obra de arte, olhar o movimento do mar, ouvir alguém ler uma história e conversar. O ar fresco, o livro, a obra de arte, tudo, absolutamente tudo, nos atravessa o corpo, a alma, o coração, o espírito... Vivemos mergulhados numa rede de interações com tudo o que existe fora de nós e com nosso próprio interior. Essa rede liga a pessoa ao mundo, que é a casa dela, e o mundo à pessoa. O ambiente está na pessoa como a pessoa está no ambiente. Quem nunca passou pela experiência de reavivar lembranças antigas por causa de um cheiro, ou de uma palavra? Quem nunca se emocionou sem entender exatamente por que, ao ouvir uma canção ou um poema?  É aí que entra a ecoformação, que é um componente essencial da Ecopedagogia. Somos formados pelos nossos encontros com tudo o que existe no mundo. E a ecoformação na educação é que abre a porta para a imaginação, a intuição, o mundo afetivo – tão indispensáveis quanto a observação atenta e a explicação objetiva (que organizam e dão sentido ao que aprendemos, mas não são suficientes). Sem a ecoformação, a gente fica no “vi”, “observei”, “registrei a informação”. A gente até é capaz de explicar e até pode dizer que "sabe", mas falta alguma coisa que faça a gente se sentir dentro do que conheceu, ligado ao que observou e sabe explicar. Ora, será que se pode esperar “preocupação ecológica” de verdade sem passar pelo sentimento de pertencer ao mundo?
Num estudo do meio sobre o ambiente marinho, uma professora trabalhou de modo diferente com duas turmas de crianças de 10 e 11 anos.  
· No dia da chegada, ela pediu aos alunos das duas turmas que escrevessem um texto sobre o mar. Em geral, os textos produzidos falavam do mar como um objeto geográfico (grande massa de água), um objeto biológico (habitat de tais e tais seres) ou um recurso à nossa disposição (grande reserva de alimentos, atividades de lazer).
· Na turma A, durante 18 dias, as atividades foram as “tradicionais”, tudo aquilo que se deve fazer para estudar um ambiente de maneira totalmente racionalobjetiva: observações ao ar livre, reflexão, busca de informações, pesquisa, coleta de documentos, análise e, por fim, síntese do que foi aprendido.
· Na turma B, durante 21 dias, foi feito o mesmo trabalho da turma A, porém  incluindo algumas situações em que  propunha aos alunos que estabelecessem situações físicas em determinados espaços, em diferentes momentos, como forma de “recreação”:  praias, penhascos, pântanos  / de manhã cedinho, com sol forte, na neblina.... Em algumas ocasiões, a professora enriqueceu as atividades com meios de expressão: pintura, escultura na areia, poesia…
· No último dia do estudo do meio, ela pediu novamente que escrevessem sobre o mar. Os resultados foram bem diferentes:
¤ as crianças da turma A, embora tivessem realizado muitas atividades de descoberta, continuavam se referindo ao mar como um elemento do ambiente, separado delas, com tais e tais características e utilidades;
¤ Na turma B, 75% das crianças foram além das descrições físicas e expressaram emoções, imagens e sentimentos. O mar, para elas, tinha se tornado um fenômeno de contemplação, um meio experimentado por um ser que percebe e reage. Os textos usavam recursos de imaginação,  e em vez de escrever “fotografando” eles conseguiram escrever coisas como esta: “É noite. O mar está calmo e doce, e brilha diante de mim. Que vontade de ter também essa beleza! De repente, um ventinho leve, e depois mais forte. Eu ainda estou sentado aqui diante do mar, o nosso precioso, belo mar...”
É isso, e não é difícil de entender: o enfoque racional não basta; suprimir a imaginação bloqueia o desenvolvimento justamente daquela parte em nós que estabelece relações com um mundo – natural, social, cultural – que precisa tanto da gentileza e do interesse dos indivíduos e comunidades para ser sustentável


2) Onde e quando começa o aprendizado para a cultura da sustentabildade?

BS: De modo franco e direto, desde sempre – em casa, na escola, no trabalho. Se considerarmos que o sistema público de educação é a maior rede de desdobramento em todo o País, fica evidente que tem um papel decisivo nessa questão. Lares estruturados, em que esse tipo de responsabilidade é passado de forma natural, e empresas conscientes e “educadoras” contribuem para a disseminação da cultura da sustentabildade.

MB: Começa em casa, ou melhor, começa já na maternidade, se o nascimento ocorrer lá.


3) Como superar os desafios da educação no Brasil, incluindo o analfabetismo funcional, e, ao mesmo tempo, priorizar o ensino de uma cultura para a sustentabildade dentro das salas de aula?

BS: Talvez o maior desafio seja o de se contemplar o todo, e não somente a sustentabilidade;é poder oferecer a todas as crianças referências culturais por professores que tenham formação em música, em arte. O analfabetismo funcional resulta da falta de condições para que o exercício da leitura continue; há poucas bibliotecas, há pouco ou nenhum estímulo para entender um texto e dele tirar conclusões.
MB: Podemos esquecer as fronteiras: o processo é um só, e a superação do problema do analfabetismo funcional vem junto com a superação da visão que confunde educação comtransmissão de informações e conhecimentos. Não é um problema brasileiro, é mundial. Planetário – como todos, rigorosamente todos os problemas que a humanidade enfrenta. Hoje sabemos que existe e é sério porque hoje temos uma quantidade de gente nas escolas que praticamente atinge a universalidade, pela primeira vez na história humana. Ainda não sabemos como educar tanta gente ao mesmo tempo nas estruturas escolares, que continuam parecidas com o que eram quando só estudavam minorias. Mas vamos chegar lá. Precisamos E está na hora de levar em conta os dados dos países em que o problema do analfabetismo funcional é menos grave, ou seja, dos países em que se lê melhor: são justamente os países em que as pessoas têm mais experiências de letramento – digamos, ecoformação ligada a livros e leitura; onde mais existe leitura em voz alta; e onde mais os estudantes são convidados a se expressarem por escrito. Melhorar a alfabetização melhora a leitura do mundo, melhorar a leitura do mundo melhora a compreensão do que se lê e também melhora o que se escreve; e isso tudo promove maior envolvimento da pessoa com o mundo.


4) Que sugestões você daria para o educador que se vê no dilema de precisar encantar e vivenciar educação ambiental com seus alunos dentro de uma realidade que, na prática, contradiz os princípios da sustentabildade?

BS: Esse tipo de contradição faz parte da vida de qualquer educador. Isso acontece a todo momento, não só com relação à sustentabilidade; vale também quando se fala sobre paz(diante de tantas guerras e atrocidades), justiça (frente a um sem-número de arbitrariedades),saúde (postos lotados ou sem infra-estrutura, por exemplo).
Com certeza, a solução para esse dilema está em ler, buscar a saída através da leitura e da pesquisa. Como diz John Wood, ex-vice-presidente da Microsoft, que abandonou sua brilhante carreira de executivo para construir bibliotecas pelo mundo.
 
MB: Não vejo isso como um dilema: é o mundo, é esse o espaço da educação, com todas as contradições e toda a bagunça que a gente sabe que existem. Tudo é uma questão de “educar o olhar”, como diz o Moacir Gadotti. A humanidade nunca viveu num paraíso, aqui na Terra. Nunca ela esteve tão perto da autodestruição, mas também sabemos que nunca tanta gente esteve tão diretamente envolvida com isso, querendo resolver. Por um lado, aí está (e nela estamos) uma realidade não-sustentável que resulta, em grande parte, de um processo de globalização econômica. Por outro lado, aí está (e nela estamos) uma realidade capaz de encantar, sustentável e de enorme potencial criador e transformador, que é a da globalização da sociedade civil. Na verdade, o que eu sugiro é que os educadores (famílias, escolas, todo mundo) recuperem o otimismo, na certeza de que nunca fomos tantos a querer e a agir num mesmo sentido. Os adultos envolvidos em educação são mediadores de conhecimentos, e não transmissores. Devem se conservar curiosos, atentos, prontos a questionar e dispostos a ajudar a encontrar sentido no que acontece nessa tal realidade contraditória.

5) Como a literatura pode levar educadores e educandos a tomar consciência de seu potencial criativo e transformador?

BS: A arte é, por si só, revolucionária. A escrita é a maior expressão de arte já conhecida.Assim, cabe aos educadores desenvolver um trabalho sério e planejado para despertar, manter e fazer crescer o interesse pela leitura em seus alunos. Se isso acontecer de forma gradativa, sem cobranças, através da sinalização dos aspectos positivos, o processo de despertar da consciência acontece de forma natural e definitiva.
MB: LEITURA é porta e janela escancarada. LITERATURA é telescópio, é binóculo, é microscópio, é tudo o que pode haver de instrumento que ajuda a OLHAR. Esta pergunta me fez lembrar o livro Fahrenheit 451, que Ray Bradbury escreveu para que o universo terrível que ele imaginou nunca chegasse a se tornar realidade. E é verdade que ler esse livro mobilizou muita gente no sentido de ficar atento para que não acontecesse o que poderia acontecer... Esse é um lado do potencial transformador da literatura. Afinal, tudo o que hoje nos atormenta nas condições de vida na Terra foi assunto da literatura, antes de ser assunto da ciência moderna.
Outro lado é aquele que diz respeito à literatura que toca a alma e fica despertando idéias, perguntas, encantamentos... Numa comunidade-multidão, a literatura é capaz de nos mostrar quanto compartilhamos, o quanto somos parecidos, como indivíduos, como são as coisas fora dos limites da nossa ação direta e como são sem pé nem cabeça nossas diferenças. No livro A elegância do ouriço, a escritora francesa Muriel Barbery põe na boca – ou melhor, na ponta da caneta – de Paloma, uma menina de 12 anos, estas palavras, que ficaram dançando e provocando outras dentro do leitor que eu sou: “E se a literatura fosse uma televisão que a gente olhasse para ativar seus neurônios-espelhos e ter as emoções da ação a preço acessível? E se, pior ainda, a literatura fosse uma televisão que nos mostra tudo o que a gente perde?”
Eu não sei exatamento COMO a literatura faz tomar consciência do potencial criador e transformador, porque tudo depende de como cada pessoa interage com o que lê. Por isso, o melhor a fazer é facilitar as coisas para que muitos possam ler, gostem de ler, passem pela experiência de escrever para entender que tudo o que se lê é mensagem de alguém, tenham boa leitura à disposição.


Para ir além

O tema da sustentabilidade a cada dia se confirma como um dos pilares da educação do futuro. Mas até que ponto um desenvolvimento sustentável está nas mãos da educação? Desenvolvimento eu acho que é uma palavra que sobra, aqui. Neste exato momento, a humanidade precisa é de sustentabilidade, precisa ser capaz de se manter por bastante tempo. O desenvolvimento de que a mídia nos fala ainda é econômico, tem a ver com fronteiras cuja existência põe em risco a sustentabilidade. Pensando no planeta, só pode haver sustentabilidade se houver equilíbrio nas nossas relações entre humanos e com o planeta todo. Nenhum decreto, nenhuma lei pode garantir isso.  O desenvolvimento de que precisamos, agora, é o de uma cumplicidade das pessoas, das empresas, das instituições todas, pela promoção da vida. E eu só vejo um espaço de ação capaz de construir essa cumplicidade: a educação em casa, na escola, na rua, em toda parte, numa perspectiva de Ecopedagogia. Por isso, eu não diria que a sustentabilidade está nas mãos da educação, e sim que ela depende de uma educação voltada para isso. Se tivermos a ingenuidade de acreditar que uma educação voltada para o mercado pode levar à sustentabilidade, estamos fritos.
E o que a família, a escola e os educadores podem fazer para que as crianças aprendam a selecionar o que é realmente sustentável em suas vidas? Exemplo, exemplo, exemplo. Simplificação como prioridade no cotidiano. Vigílias de 24 horas por dia de cuidado intensivo com o outro, de olhar para o outro e para o mundo de um jeito limpo e verdadeiramente interessado, curioso, em busca de todos os recursos da diversidade cultural que consigamos reunir para nos ajudar a suportar redução de confortos e facilidades dispensáveis em nome da sustentabilidade da vida no planeta. Ética, igualdade, respeito. Diálogo. Enfim, o que importa não é tanto “o que fazer”, mas “como ser e como fazer”.
Maria Betânia Ferreira

FONTE:
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